Cadeira Nº 5 – Patrono Joel Carlos de Oliveira

Foto: Fornecida pela Família e restaurada por Agacê Di Oliveira

JOEL CARLOS DE OLIVEIRA

Por Marília de Almeida Cardoso[1].

A trajetória de um guerreiro

Nos contornos geográficos que atualmente representam o município de Gov. Dix-sept Rosado, no território correspondente ao Sítio Aguilhada, nasce, em 1935, Joel Carlos de Oliveira.

Dada às dificuldades imposta à continuidade de sua vida escolar, cursou apenas os três primeiros anos primários numa escola estadual situada na comunidade onde nascera, na qual Josefa Carlos da Costa lecionava. Apesar do pouco tempo de permanência no ambiente de ensino, este fora suficiente para outorga-lhe a habilidade mais suntuosa de que disponha: a aptidão para a leitura.

Assumiu como atividade profissional a prática da agricultura de subsistência, privilegiando o cultivo do feijão, milho, batata, arroz, alho e cebola, às margens do rio que nasce na Serra da Queimada em Luiz Gomes, atravessa a Chapada do Apodi e o município de Mossoró, desaguando finalmente no Oceano Atlântico, e que em razão do percurso de suas águas, recebe a denominação singela de Rio Apodi-Mossoró.

Na busca constante de melhoria da qualidade de vida, tornou-se vendedor ambulante de alho e cebola na região do Cariri-CE. Para chegar ao seu destino de venda, utilizava duas conduções ferroviárias: o primeiro trem fazia a linha Mossoró-Souza(PB) e o segundo, desta ultima para a região cearense já citada. Era uma forma de fuga dos óbices que inviabilizavam a sua sobreviver.

Nos idos de 1966, transferiu-se para o estado do Paraná, para um sítio denominado Brasilândia, onde trabalhou como pequeno arrendatário de terras, principalmente na fazenda do proprietário Gilberto Mestrim, praticando o plantio do algodão e erva-doce e ainda atividade comercial em um bar, onde residia. Com essa atitude, assumiu o estereótipo de mais um migrante nordestino que, expulso pela intempérie, persegue o sonho de uma vida melhor no Sul Maravilha. Já dizia o ilustre escritor carioca Euclides da Cunha, em sua brilhante produção literária Os Sertões: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

Em 1974 transferiu-se par Guarulhos – SP, assumindo a profissão de vigilante do jornal A Folha de São Paulo. Em 1982 transferiu-se definitivamente para sua terra natal – Gov. Dix-sept Rosado, exercendo a função de vigilante noturno na Escola Estadual Jerônimo Rosado. Durante o dia, retomou as atividades agrícolas às antigas margens do rio Apodi-Mossoró.

Apesar de não viver em ambientes propícios ao aprendizado das letras, seu conhecimento se fez pelo desejo sequioso de ler e pela curiosidade aguçada. Um diálogo com a sua simples pessoa demonstrava o seu perfeito domínio do vernáculo e a profundeza dos seus conhecimentos políticos, filosóficos e humanísticos. Dotado de uma memória prodigiosa, entremeava a sua conversação com citações literárias de grandes autores, dentre os quais cito apenas os principais: Érico Veríssimo, Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos. A dedicação à leitura tinha em Joel muito mais do que um exemplo de virtude, assemelhava-se a um vício incorrigível, alimentado por uma vontade férrea, que constituía por si, a arte que dava sentido a sua existência.

O futuro de um homem culto não parecia destinado ao menino concebido na modesta comunidade do Sítio Aguilhada. Aos poucos, com a leitura voraz de livros, revistas e tudo o que encontrava, Joel foi se tornando a referência cultural do município. Teve a oportunidade de irradiar por toda a cidade os benéficos efeitos de sua vocação para ler, pois, as pessoas, ao dirigir a despeito da história do município, consultavam-no desde a Mina de Gesso até a elaboração do Hino Municipal.

Também era profundo conhecedor da política Nacional e Regional, através da leitura da revista Cruzeiro (hoje extinta), Veja e Isto é. Não bastasse a compreensão da dinâmica política do seu país, conhecia a história das ditaduras mundiais, como os ditadores Idiamin (Uganda), Fulgêncio Batista (Cuba), Anua-Sada (Egito), Mussolini (Itália), Adolf Hitler (Alemanha), Marechal Título (Iuguslávia) e Trugilho (República Dominicana), entre outros.

Como grandioso testemunho de valor intelectual do homenageado, a este foi concedida, por um período de 1 mês, a insígnia honorífica de administrador de sua terra de origem, como prefeito provisório. Era mais um feito para introjetá-lo nos desvãos da história.

No dia 27 de fevereiro de 2007, consumido por uma neoplasia de esôfago, Joel Carlos realiza a sua última viagem, desta vez, definitiva: Gov. Dix-sept Rosado lamenta copiosamente o seu falecimento.

“Joel Carlos, o espírito da erudição vela-te continuamente, como estrela da manhã, e exulta de alegria sobre a mente literata  que agora descansa, onde a sabedoria, a experiência e o conhecimento assentaram o seu reservatório sagrado, pois se aqui na terra não cultivaste riqueza, levaste consigo o mais precioso de todos os tesouros, que é a cultura soberana que tinhas …”.


[1] Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN (2011), com Residência na área de Clínica Médica (2012-2014) e Endocrinologia (2014-2016) pela USP-SP. Research fellowship in the Division of Endocrinology, Diabetes and Hypertension in Brigham and Women’s Hospital, Harvard Medical School. Experiência em Medicina, com ênfase em Endocrinologia e Metabologia.