Cadeira nº 2 – Patrono: Euclides Carlos Filho

Cadeira Nº. 02 Patrono Euclides Carlos Filho (Tuzinho).

Ocupada pelo Acadêmico Antonio Pedro da Costa.

EUCLIDES CARLOS FILHO – (TUZINHO)

Por Antonio Pedro da Costa

Foto: Fornecida pela Família, restaurada por Agacê Di Oliveira

AS ORIGENS

Relatos antigos dão conta de que nas primeiras décadas do século XIX chegou para fixar residência no povoado que deu origem ao município de Governador Dix-sept Rosado/RN, o Senhor Vidal Carlos de Menezes, oriundo de Sobral, estado do Ceará.

Trazia esposa e três filhos: Manoel Carlos de Menezes, José Carlos de Menezes e Antonio Carlos de Menezes.

Da união conjugal de Antonio Carlos de Menezes e Felismina Olívia nasceram nove filhos, dentre eles, Euclides Carlos de Menezes.

Euclides Carlos de Menezes contraiu núpcias em primeiro matrimônio com Joaquina Mônica da Costa em 12 de fevereiro de 1907, resultando no nascimento de sete filhos que se tornaram adultos, a saber:

  1. Sebastião Ambrósio de Menezes (07.12.1907);
  2. Lourenço Carlos de Menezes (08.01.1909);
  3. Alexandre Carlos de Menezes (29.03.1910);
  4. Simeão Carlos de Menezes (24.03.1911);
  5. Elias Carlos de Menezes (20.07.1912);
  6. Alzira Alvina da Costa (20.03.1915) e
  7. José Carlos da Costa (19.03.1920).

Euclides enviuvou e, do segundo matrimônio com Maria Matildes (Maricota), nasceram mais dois filhos: Maria Silvina de Menezes Oliveira em 01 de janeiro de 1928 e o próprio, Euclides Carlos Filho, Tuzinho, em 01 de fevereiro de 1929.

O HOMEM

Não é fora de propósito, nem é clichê afirmar no início desse enredo que Euclides Carlos Filho (Tuzinho) foi um homem além do tempo em que viveu. Na sequência do relato, pode-se perfeitamente constatar tal assertiva.

Nasceu como já foi dito acima, em 01 de fevereiro de 1929, no Sítio Bamburral, em São Sebastião, hoje Governador Dix-sept Rosado. Filho de Euclides Carlos de Menezes e de Maria Matildes de Menezes (Maricota).

Acontece que, apesar de não haver qualquer impedimento legal para contrair novo casamento civil, pois seu pai era viúvo e sua mãe solteira, realizou-se apenas o sacramento religioso, o que resultou que os dois filhos frutos do novo matrimônio foram tidos e registrados civilmente como filhos ilegítimos. É que, pela lei de então, os filhos concebidos de relação carnal entre não casados civilmente eram assim considerados.

Vinte dias antes do nascimento de Tuzinho, seu pai veio a óbito, ficando Maricota viúva para cuidar e sustentar duas crianças: Maria Silvina (Mariinha) com um ano e um mês e Tuzinho, recém nascido. Seu genitor era pequeno proprietário de uma gleba de terra no Sítio Bamburral, adquirida por herança, que mal dava para o sustento dos sete filhos do primeiro casamento e Maricota ficou desgarrada com suas duas crianças.

Sorte é que Maricota era pessoa de fácil relacionamento e recebeu ajuda de parentes e da vizinhança. Inclusive Mariinha, sua filha mais velha, sempre demonstrou muito carinho e gratidão por José Jacinto, seu cunhado, pois casado com Dona Alzira, o considerou como o pai que não conhecera, como a própria afirmava.

Já Tuzinho dizia que sua referência paterna na infância foi o seu tio, Vicente Carlos de Menezes. Vicente Carlos de Menezes era irmão do seu pai, Euclides Carlos de Menezes. Inclusive foi alfabetizado e aprendeu as primeiras lições com o Senhor Vicente Carlos, na Escola Isolada “Batista Mendes”, a qual ficava na comunidade rural vizinha: Sítio Gangorrinha.

Concluiu o curso primário, o correspondente hoje ao quarto e ao quinto anos, no Grupo Escolar Jerônimo Rosado, hoje Escola Estadual “Jerônimo Rosado”, onde Raimunda Dias foi sua professora.

Muito embora o Sítio Bamburral seja bem próximo da zona urbana, cujo limite é apenas o Rio Mossoró, quando veio estudar na rua, foi se aproximando de familiares e amigos, passando a residir entre a casa de sua mãe, na zona rual, e a casa de parentes, na cidade, destacando-se dentre as casas que lhe acolheu, a de Dona Alzira, sua irmã e a de Manoel Carlos, seu tio, o pai de Detinha.

O TRABALHO

Fato é que, Tuzinho não se adaptou ao trabalho na agricultura de subsistência, ocupação tradicional de sua família e também dos jovens do seu tempo. Muito jovem ainda passou a trabalhar como ajudante na Mercearia de Seu França Agripino, a qual ficava localizada na Rua Manoel Joaquim, no imóvel que hoje funciona uma academia. França Agripino era muito bem relacionado politicamente na época, tendo ocupado o cargo de subprefeito da então Vila de São Sebastião, posteriormente denominada de Governador Dix-sept Rosado.

A convite de França Agripino passou a trabalhar como locutor do serviço municipal de autofalante, denominada de Amplificadora Municipal. Esse trabalho foi desenvolvido por alguns anos, das 19:00 às 21:00hs., em todos os dias da semana.

Desde jovem Tuzinho foi um leitor assíduo, lia tudo o que era possível e que tinha oportunidade. Lia alguns jornais que chegavam na comunidade, muitos já com dias a até meses da publicação. Gostava de informação, e por falta de jornal escrito ou de revistas periódicas atualizadas, ouvia muito rádio e até ficar enfermo no leito de morte conservou o hábito de ouvir “A Voz do Brasil”, anteriormente denominada “A Hora do Brasil”. A Voz do Brasil foi um programa de rádio criado por Armando Campos para dar popularidade ao então presidente da República, Getúlio Vargas. Já foi chamada como Programa Nacional, mas de 1938 até os anos 70 era chamada de A Hora do Brasil. Ainda hoje “A Voz do Brasil” vai ao ar por uma cadeia nacional obrigatória de todas as concessões de rádio às 19:00hs, pontualmente, de segunda à sexta-feira.

Em 1º de setembro de 1954 foi admitido como funcionário da Estrada de Ferro Mossoró/Souza. Por força da lei nº 3.115, de 1957, a Estrada de Ferro Mossoró/Souza foi incorporada à Rede Ferroviária Federal S/A (REFFESA), na região denominada Rede Ferroviária do Nordeste.

Nos primeiros anos do emprego passou a residir em Mossoró de 1954. Inicialmente exerceu o cargo de escrevente datilógrafo. Retornou a Governador Dix-sept Rosado, por transferência, onde passou a exercer a função de Agente da Estação.

Em 31 de maio de 1968 foi transferido para a chefia da estação de Souza, onde permaneceu por alguns meses, passou também alguns dias como Agente da Estação de Santa Cruz, ambas no estado da Paraíba, retornando a Governador Dix-sept Rosado, para a chefia da estação ferroviária em 20 de novembro de 1968.

Com a extinção do cargo de Chefe da Estação ou Agente da Estação em Governador Dix-sept Rosado, foi remanejado para o quadro de pessoal do antigo INPS (Instituto Nacional da Previdência Social), hoje INSS, conforme consta da Portaria nº 278, de 20 de fevereiro de 1977, publicada no Diário Oficial da União em 07 de março de 1977. Tomou posse no INPS/Mossoró em 05 de abril de 1977, como agente administrativo.

Aposentou-se por tempo de serviço em 27 de março de 1990, por força da Portaria nº RNAP – 031, do INPS.

Tuzinho tinha memória invejável e era conhecedor de aspectos históricos e ou pitorescos relacionados ao município de Governador Dix-sept Rosado como poucos. Guardava datas, nomes, acontecimentos, e depois os relatava com riqueza de detalhes, que encantava o ouvinte.

A FAMÍLIA

Em 17 de dezembro de 1966 contraiu núpcias com Maria de Lourdes de Sousa Fernandes (Dona Lourdinha), passando esta, após o casamento, a chamar-se Maria de Lourdes Fernandes Carlos. Desse enlace nasceram cinco filhos: Padre Rierson Carlos, Maria Rejane Fernandes Carlos (falecida em 13 de maio de 2008), Robério Carlos Fernandes, Maria Rosimary Fernandes Carlos e Maria José Fernandes Carlos.

Atualmente a família conta também com sete netos e dois bisnetos.

Deixou para os filhos e netos um legado de honestidade, de bom pai e de homem digno e trabalhador. Viveu para a família e para fazer grandes amizades.

O DESPORTISTA

Tuzinho sempre gostou de esporte, mas se encantou de maneira particular pelo futebol. Foi bom jogador do Tapuio Esporte Clube de Governador Dix-sept Rosado.

Além de jogador, deu contribuição para o engrandecimento do esporte e participou ativamente da luta para aquisição do terreno, onde hoje é o estádio de futebol da cidade. Inclusive teve em seu poder até a morte cópia do registro de imóveis referente a compra do mencionado terreno à Diocese de Mossoró. A aquisição foi feita em 31 de dezembro de 1962 e somente em 03 de março de 1964 foi formalizado o negócio, através do Registro Geral de Imóveis da 2ª Zona, folhas 3(verso) a 4, com número de ordem 12, Livro número 3, da Cidade de Mossoró.

O Estádio de Futebol “Maurílio Dias”, mesmo depois de comprado e passado em cartório, como se verifica pelas anotações acima, representou um marco da resistência à dominação política do município. É que qualquer movimento desenvolvido no município, que não fosse totalmente dependente do poder dominante, era perseguido impiedosamente. Não foi diferente com o esporte. Adquirido junto à Diocese de Mossoró, o terreno destinado à prática do futebol amador, por diversas vezes, os jogadores e outras pessoas da comunidade amantes do esporte, tiveram que fazer mutirão para arrancar piquetes colocados por autoridades locais, visando lotear o espaço para construção de moradias. A municipalidade “doava” lotes de terra que não lhes pertenciam com o intuito de dividir a comunidade.

A POLÍTICA

Tuzinho sempre foi preocupado com o destino político de sua comunidade. Contribuiu como pôde com sua inteligência e com seus conhecimentos para a condução do município.

Participou ativamente da campanha pela emancipação política do município de Governador Dix-sept Rosado, contrariando interesses de quem dominava política e economicamente o então Distrito de Governador Dix-sept Rosado, vinculado ao município de Mossoró. A família Rosado exercia atividade econômica de destaque com a indústria da exploração da gipsita (gesso) e, por conseguinte, era também a força hegemônica da política local. Por isso, os Rosados queriam manter a Vila de Governador Dix-sept Rosado, vinculada ao município de Mossoró. Assim se sentiam mais seguros para administrarem os empreendimentos político e empresarial.

No início da década de 60, por decreto do poder executivo estadual, o então Governador do Rio Grande do Norte Aluízio Alves, que fazia oposição aos Rosados, instituiu o município de Governador Dix-sept Rosado. Era o ano de 1962. A família Rosado derrubou através da justiça essa primeira tentativa de emancipação política. Finalmente, foi elevado à categoria de município com a denominação de Governador Dix-Sept Rosado, pela lei estadual nº 2.878, de 04-04-1963, aprovada pela Assembleia Legislativa, desmembrando-se de Mossoró. Sede no antigo distrito de Governador Dix-Sept Rosado. Instalado em 15-04-1963.

Disputou a primeira eleição para escolha do prefeito e do vice-prefeito, do recém criado município. Em oposição aos Rosados, integrou a chapa composta por João Nepomuceno da Silveira (candidato a prefeito) e Euclides Carlos Filho, Tuzinho (candidato a vice-prefeito), pelo PSD (Partido Social Democrático).

A família Rosado, liderada pelo então deputado federal Vingt Rosado, apresentou a chapa que se tornou vencedora, composta por Severino Ramos Vieira e Pedro Francisco de Morais (Pedro Cota), prefeito e vice-prefeito, respectivamente.

Durante a ditadura militar se filiou ao partido de oposição ao regime autoritário e sustentou a duras penas o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) local. Com destemidos amigos, dentre os quais: João Agripino, Pompeu, Armando Raimundo, João Nepomuceno, dentre outros, tentou segurar os ideais de inconformismo com o autoritarismo e com a exceção democrática.

Em 1972 mais uma vez chegou a registrar a sua candidatura a vice-prefeito, como companheiro de chapa de João Nepomuceno, mas teve cassado o referido registro. Nessa eleição a oposição foi representada pelo conhecido e saudoso, Zezé de Noberto.

O grupo dominante do município havia tomado um susto em 1968, na eleição anterior para prefeito, quando Armando Raimundo e João Nepomuceno foram derrotados por apenas trinta votos, num pleito de transparência muito duvidosa.

Quatro anos depois a oposição foi intensamente sufocada, tendo culminado com a cassação da chapa concorrente, restando pouco tempo para reorganizar outra chapa para concorrer ao pleito.  

O OCASO

Em julho de 1994, Tuzinho foi acometido de um AVC (acidente vascular cerebral). Desde então não mais se locomoveu com independência, necessitando de cadeira de rodas.

Seu quadro de saúde foi se agravando com o passar dos tempos, vindo a óbito há quase catorze anos depois, em 13 de abril de 2008. 

Suas exéquias foram celebradas em Governador Dix-sept Rosado, com missa presidida pelo Bispo Diocesano Dom Mariano Manzana, culminando com o sepultamento no cemitério municipal São Sebastião.